Pontuar bem, ou seja, usar correctamente os sinais de pontuação é fundamental na construção de um texto de qualidade, garantindo a sua gramaticalidade e clareza.
De um modo geral, as gramáticas tradicionais, normativas, associam a pontuação à prosódia (pausas, entoação, ritmo), considerando que permite a representação da entoação da fala no texto escrito. No entanto, alguns linguistas chamam à atenção para a relação existente entre os sinais de pontuação e “as especificidades sintácticas e semânticas dos enunciados, na escrita” (Duarte, 2000, p. 403, nosso destacado), bem como para a importância dos sinais de pontuação para uma boa leitura e interpretação de um texto (cf. Duarte, 2000; Delgado Martins & Ferreira, 2006; Filho, 2004, entre outros).
Ao lermos jornais ou textos escritos por uma população escolarizada, é comum encontrar frases sem pontuação ou mal pontuadas, que ferem a estrutura da frase e a clareza da mensagem. A análise de produções escritas da população universitária moçambicana confirma esta constatação, revelando a existência de grandes dificuldades ao nível da pontuação (cf. Siopa, 2010). O parágrafo seguinte, extraído de um texto escrito por um estudante universitário, é um exemplo elucidativo de incorrecta aplicação das regras de pontuação:
Texto original |
Texto com pontuação corrigida |
Esta acção imoral promovida por homens no seio da humanidade, está ganhando proporções alarmantes na sociedade moçambicana, uma sociedade que ao longo de 10 anos lutou para se tornar independente e livre de todos e quaisquer males. |
Esta acção imoral, promovida por homens no seio da humanidade, está ganhando proporções alarmantes na sociedade moçambicana, uma sociedade que, ao longo de 10 anos, lutou para se tornar independente e livre de todos e quaisquer males. |
A análise dos problemas de pontuação identificados nas produções escritas desta população mostra que os erros mais frequentes e graves dizem respeito ao uso da vírgula e do ponto final. O uso da vírgula constitui o enfoque das fichas de exercícios que aqui se apresentam.
Na impossibilidade de abarcar todos os contextos em que a vírgula é usada, nestas fichas, trabalham-se aqueles em que se diagnosticou um número significativo de erros, e que parecem interferir mais na leitura e interpretação dos enunciados, nomeadamente:
(i) Colocação da vírgula a separar constituintes nucleares da oração (sujeito e predicado); e
(ii) Omissão da vírgula a separar constituintes acessórios (adjuntos adverbiais, modificadores nominais, orações subordinadas adverbiais conjuncionais ou reduzidas).
Vejam-se os seguintes exemplos destes usos incorrectos da vírgula (alíneas a)) e as suas contrapartes correctas (alíneas b)):
As duas fichas de exercícios a seguir apresentadas têm como principal objectivo promover a aplicação das regras de uso da vírgula nos contextos acima identificados. Espera-se, assim, que, ao tomar consciência do papel fundamental da estrutura e função sintáctica dos constituintes das frases, os estudantes sejam capazes de analisar e editar a pontuação dos seus próprios textos, de forma independente.
Em cada uma destas fichas, fornecem-se, em primeiro lugar, sob a forma de “lembrete”, as regras básicas que regulam o uso da vírgula e, em seguida, propõe-se um conjunto de exercícios que visam treinar a aplicação dessas regras. Pretende-se, assim, promover a exercitação sistemática das regras para sua automatização e posterior uso espontâneo. Veja as Fichas de Exercícios…
Para garantir a monitoria e a avaliação na resolução dos exercícios aqui propostos, pode consultar-se o "guião de correcção". Veja o Guião de Correcção…
Referências
Cunha, C., & Cintra, L. (1999). Breve gramática do Português contemporâneo, 12ª ed. Lisboa: Editora Sá da Costa.
Delgado-Martins, M. R., & Ferreira, H. (2006). Português Corrente – Estilos do Português no Ensino Secundário. Lisboa: Editorial Caminho.
Duarte, I. (2000). Língua Portuguesa – Instrumentos de Análise. Lisboa: Universidade Aberta.
Filho, A. (2004). A pontuação em manuscritos medievais portugueses. Bahia: EDUFBA.
Siopa, C. (2010). Pistas de exploração didáctica: Revisão de texto. In P. Gonçalves (org.) Português no ensino superior em Moçambique - Pesquisa transnacional: Beira, Nampula e Quelimane. Relatório de investigação em CD-ROM.[1] Exemplos extraídos de produções escritas de estudantes universitários moçambicanos. Veja-se storage/app/media/disco/base_dados_versao_digitada.html