Catedra Português Instituto Camões UEM

CONCORDÂNCIA VERBAL

Názia Bavo (2015)

 INTRODUÇÃO

Diversos estudos realizados sobre as produções escritas da população moçambicana com um nível avançado de escolaridade concluíram que esta tem dificuldades em algumas áreas do português, no que se refere à aplicação das regras da gramática do português europeu padrão (PE). Estas dificuldades decorrem fundamentalmente da situação do português como L2, da fraca exposição à língua portuguesa e ainda da deficiente qualidade do processo de ensino-aprendizagem (Gonçalves, 2010; Gonçalves & Siopa, 2005; Firmino, 2002). Entre as várias dificuldades identificadas, sobressai a área de concordância verbal, mais particularmente, a concordância em número (Nhongo, 2005).

De acordo com Nhongo (2005), as dificuldades da população universitária na aplicação de regras de concordância verbal em número estão relacionadas com a estrutura do SN que desempenha a função de sujeito. Assim, a maior parte dos erros ocorre quando o sujeito:

i)   é uma expressão de quantificação simples (cf. (1a)) ou complexa (cf. (1b));

ii)  é composto (cf. (2));

iii) é complexo (cf. (3a));

iv) é o pronome relativo que (cf. (3b));

v)  e ainda quando a posição de sujeito está vazia, isto é, quando se trata de sujeitos não realizados lexicalmente (cf. 4a)), ou pospostos (cf. 4b)), ou ainda do verbo impessoal haver.

Exemplos:

(1) a. [Estes vírus] vai se desenvolvendo. (PE = vão)

       b. [A maioria dos crentes] ignoram estes acontecimentos.  (PE = ignora)

(2) [A vida da cidade e o desenvolvimento] está a causar transtornos. (PE = estão)

(3) a. [Bens necessários e básicos para um indivíduo adquirir] está muito além das suas capacidades. (PE = estão)

       b. O problema não é só dos mortos [que] se avoluma. (PE = avolumam)

(4) a. Os filhos não se sentem totalmente acolhidos, por isso [ - ] engrena no caminho dos toxímanos. (PE = engrenam)

       b. [ - ] existe em todo o mundo [muitos ladrões]. (PE = existem) 

As estruturas de quantificação complexa ilustradas em (1b) merecem um comentário, já que nem todos os gramáticos coincidem relativamente à regra de concordância que deve ser aplicada (cf. Peres & Móia, 1995: 470-488). Nesta ficha, assume-se que, nestes casos, o verbo deve concordar com o primeiro nome (cf. maioria, em (1b))  e não com o nome encaixado (cf. crentes, no mesmo exemplo). 

Os exercícios a seguir apresentados visam promover o treino das regras de concordância verbal em número nos contextos em que a população com um nível avançado de escolaridade revela mais dificuldades. Veja as Fichas de Exercícios…

Estes exercícios assentam na metodologia de ensino denominada “prática de estruturas”, que consiste em:

(i)   isolar um dado fenómeno gramatical;

(ii)  produzir enunciados, em que esse fenómeno ocorra; e

(iii) repetir, através de exercícios, esse fenómeno gramatical (cf. Ellis, 2002: 168).

Os defensores desta prática consideram que ela é fundamental para o desenvolvimento da competência linguística, assentando na expectativa de que o aluno vai adquirir um conhecimento procedimental e/ou automatizar uma estrutura, permitindo, assim, o seu uso espontâneo. 

As frases dos exercícios aqui apresentados foram extraídas de jornais, revistas e, posteriormente, adaptadas pela investigadora.

Para garantir a monitoria e a avaliação na resolução dos exercícios aqui propostos, pode consultar-se o "guião de correcção". Veja o Guião de Correcção…

 

Referências

Ellis, R. (2002). Grammar teaching – practice ou conciousness-Raising? In J. Richards & W. Renandya (Eds.) Methodology in language teaching: an anthology of current practice. Cambrige: Cambrige University Press.

Firmino, G. (2002). A “questão linguística” na África pós-colonial: O caso do português e das línguas autóctones em Moçambique. Maputo: Promédia.  

Gonçalves, P. (org.) (2010). O português escrito por estudantes universitários: Descrição linguística e estratégias didácticas. Maputo: Texto Editores.

Gonçalves, P. & Siopa, C. (2005). Português na Universidade: Da análise linguística às estratégias de ensino-aprendizagem. Idiomático, 5, Revista Digital de Didáctica de PLNM. Instituto Camões – Centro Virtual Camões.

Nhongo, N. (2005). A concordância verbal em número no discurso escrito de estudantes universitários moçambicanos. (Tese de Licenciatura não publicada).  Universidade Eduardo Mondlane.

Peres, J. & Móia, T. (1995).  Áreas críticas da língua portuguesa. Lisboa: Editoral Caminho.
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