Diversos estudos realizados sobre as produções escritas da população moçambicana com um nível avançado de escolaridade concluíram que esta tem dificuldades em algumas áreas do português, no que se refere à aplicação das regras da gramática do português europeu padrão (PE). Estas dificuldades decorrem fundamentalmente da situação do português como L2, da fraca exposição à língua portuguesa e ainda da deficiente qualidade do processo de ensino-aprendizagem (Gonçalves, 2010; Gonçalves & Siopa, 2005; Firmino, 2002). Entre as várias dificuldades identificadas, sobressai a área de concordância verbal, mais particularmente, a concordância em número (Nhongo, 2005).
De acordo com Nhongo (2005), as dificuldades da população universitária na aplicação de regras de concordância verbal em número estão relacionadas com a estrutura do SN que desempenha a função de sujeito. Assim, a maior parte dos erros ocorre quando o sujeito:
i) é uma expressão de quantificação simples (cf. (1a)) ou complexa (cf. (1b));
ii) é composto (cf. (2));
iii) é complexo (cf. (3a));
iv) é o pronome relativo que (cf. (3b));
v) e ainda quando a posição de sujeito está vazia, isto é, quando se trata de sujeitos não realizados lexicalmente (cf. 4a)), ou pospostos (cf. 4b)), ou ainda do verbo impessoal haver.
Exemplos:
(1) a. [Estes vírus] vai se desenvolvendo. (PE = vão)
b. [A maioria dos crentes] ignoram estes acontecimentos. (PE = ignora)
(2) [A vida da cidade e o desenvolvimento] está a causar transtornos. (PE = estão)
(3) a. [Bens necessários e básicos para um indivíduo adquirir] está muito além das suas capacidades. (PE = estão)
b. O problema não é só dos mortos [que] se avoluma. (PE = avolumam)
(4) a. Os filhos não se sentem totalmente acolhidos, por isso [ - ] engrena no caminho dos toxímanos. (PE = engrenam)
b. [ - ] existe em todo o mundo [muitos ladrões]. (PE = existem)
As estruturas de quantificação complexa ilustradas em (1b) merecem um comentário, já que nem todos os gramáticos coincidem relativamente à regra de concordância que deve ser aplicada (cf. Peres & Móia, 1995: 470-488). Nesta ficha, assume-se que, nestes casos, o verbo deve concordar com o primeiro nome (cf. maioria, em (1b)) e não com o nome encaixado (cf. crentes, no mesmo exemplo).
Os exercícios a seguir apresentados visam promover o treino das regras de concordância verbal em número nos contextos em que a população com um nível avançado de escolaridade revela mais dificuldades. Veja as Fichas de Exercícios…
Estes exercícios assentam na metodologia de ensino denominada “prática de estruturas”, que consiste em:
(i) isolar um dado fenómeno gramatical;
(ii) produzir enunciados, em que esse fenómeno ocorra; e
(iii) repetir, através de exercícios, esse fenómeno gramatical (cf. Ellis, 2002: 168).
Os defensores desta prática consideram que ela é fundamental para o desenvolvimento da competência linguística, assentando na expectativa de que o aluno vai adquirir um conhecimento procedimental e/ou automatizar uma estrutura, permitindo, assim, o seu uso espontâneo.
As frases dos exercícios aqui apresentados foram extraídas de jornais, revistas e, posteriormente, adaptadas pela investigadora.
Para garantir a monitoria e a avaliação na resolução dos exercícios aqui propostos, pode consultar-se o "guião de correcção". Veja o Guião de Correcção…
Referências
Ellis, R. (2002). Grammar teaching – practice ou conciousness-Raising? In J. Richards & W. Renandya (Eds.) Methodology in language teaching: an anthology of current practice. Cambrige: Cambrige University Press.
Firmino, G. (2002). A “questão linguística” na África pós-colonial: O caso do português e das línguas autóctones em Moçambique. Maputo: Promédia.
Gonçalves, P. (org.) (2010). O português escrito por estudantes universitários: Descrição linguística e estratégias didácticas. Maputo: Texto Editores.
Gonçalves, P. & Siopa, C. (2005). Português na Universidade: Da análise linguística às estratégias de ensino-aprendizagem. Idiomático, 5, Revista Digital de Didáctica de PLNM. Instituto Camões – Centro Virtual Camões.
Nhongo, N. (2005). A concordância verbal em número no discurso escrito de estudantes universitários moçambicanos. (Tese de Licenciatura não publicada). Universidade Eduardo Mondlane.
Peres, J. & Móia, T. (1995). Áreas críticas da língua portuguesa. Lisboa: Editoral Caminho.